Já segunda, foi a Professora Virene Roxo, agora no MBA da FGV. Mais que Economia, ela ensina profissionalismo. Não ficou nenhuma área de fora nas poucas aulas que tivemos.
Lembrei destes Professores porque encontrei no Blog do Vinícius, no Folha Online, um grande resumo sobre contas do país, câmbio, juros e por aí vai para 2010. Não precisa ser economista para entendê-lo e aí está o grande mérito, mas ter tido Newton Bueno e Virene Roxo como professores faz muita diferença.
Bom 2010 e alguns riscos no Brasil
O consumo total no Brasil deve aumentar cerca de R$ 180 bilhões no biênio 2009-2010 _apenas o consumo do governo deve aumentar R$ 51,6 bilhões. Na soma dos dois anos, o investimento (em fábricas, equipamento, infraestrutura, habitação etc) terá diminuído em R$ 2 bilhões. A estimativa é da MB Associados, uma consultoria ponderada e que se ocupa bastante de minúcias da economia real. E daí?
Falta investimento
Daí que, obviamente, o consumo cresce mais do que o investimento. Não é necessário "casar" os números, claro. Mas a economia deve ter capacidade produtiva e infraestrutura suficientes de modo que a procura excessiva, a escassez, não faça com que os preços subam _que venha inflação. Vale lembrar que um país não consome apenas o que produz _importa bens e serviços do exterior, o que complementa as necessidades de consumo.
Porém, a fim de comprar mais é preciso ter moeda forte, dólares, para pagar as contas. Logo, é preciso exportar mais. Se há um descasamento muito grande entre exportações e importações durante muitos anos, pode haver problemas. Esse descasamento se chama "deficit em transações correntes". Se investidores e empresas estrangeiras investem mais aqui (em produção ou no mercado financeiro), esse deficit é "coberto", é financiado. Mas os estrangeiros se dispõe a colocar seu dinheiro aqui até um certo limite, um tanto impreciso.
Quando os investidores acham que um país consome demais, vive acima dos seus meios, pode começar a desconfiar que o país tem problemas e, num caso extremo, que um país pode se tornar incapaz de pagar suas contas. E param de trazer dinheiro para cá. É o que se chama de "crise externa". O dinheiro (dólares) começa a minguar ou foge. Há uma crise de pagamentos. O real se desvaloriza. O Brasil viu esse filme várias vezes, as mais recentes em 1998-99 (crise do real) e 2002 (crises várias mais o nervosismo do mercado com a eleição de Lula).
Longe de crise
Mas o Brasil está longe de ter uma crise como essas, claro (a não ser que ocorra algum tumulto grande lá fora). Há tempo para corrigir o rumo. O Banco Central vai elevar os juros em breve (em abril, talvez). A economia desacelera, cai o consumo no mercado doméstico, caem as importações. Para crescer mais, o país precisa aumentar a produtividade e a quantidade de investimentos na produção. Para fazê-lo, é preciso consumir menos. De preferência, o governo consumir menos.
Bom 2010, juros
Apesar desses riscos, o economista Sérgio Vale, que assina as análises econômicas da MB Associados, acredita em um ano muito bom. Crescimento de 6%, que poderia ir até a 7% caso o BC não elevasse os juros, o que provavelmente será mesmo necessário. A inflação deve fechar o ano em 4,7%, com tendência de alta. As vendas no comércio varejista devem crescer 8,6%, mais que o conjunto da economia. A taxa de desemprego deve ser uma das menores da história recente (desde o início da série nova de estatísticas do IBGE). Em 2009, a economia ficou estagnada _teria encolhido 0,1% na estimativa da MBA. O PIB do quarto trimestre do ano passado deve ter subido 4,7% em relação ao trimestre final de 2008.
Por que juros tão altos?
Por que a Selic (juros do BC) é tão alta e a inflação começa a apertar quando o PIB cresce algo além de 5%? Bem, a discussão rende tratados de economia e política. Mas os motivos mais consensuais e mais imediatos, alguns dos quais apontados por Vale, são:
1) A meta de inflação é muito alta ainda. A taxa de juro que realmente importa é a taxa real, isto é, juros descontados a inflação. Quanto mais alta a meta de inflação, ainda mais altos precisam ser os juros. Na conta de Vale, "para cada ponto percentual de inflação a taxa real de juros teria que subir mais de um ponto percentual";
2) Consumo excessivo, dada a capacidade produtiva da economia e as condições da infraestrutura (portos, estradas etc). Para "sobrar" mais para o investimento, seria necessário reduzir o consumo;
3) Indexação. Vários preços da economia ainda são corrigidos por lei ou por contratos, regularmente. Mesmo que o custo daquele serviço não tenha subido tanto como a taxa média de inflação, os preços são corrigidos para cima. Isso faz com que a inflação do passado sempre "reapareça" no nos preços futuros. Quanto menos indexada uma economia, menor a "inércia" (isto é, menos os reajustes do passado contaminam os preços do futuro);
4) "Tabelamento de juros". Várias taxas de juros da economia são "tabeladas", definidas pelo governo, e não sofrem o efeito das ações do Banco Central. Por exemplo, as taxas de juros subsidiadas de bancos públicos. Como essas taxas "não se mexem" quando o BC eleva ou reduz os juros, é preciso pisar mais fundo no acelerador, aumentar mais os juros básicos, para compensar o efeito da imobilidade das taxas "tabeladas".
Sim, há mais problemas. Mas este é um mero blog. A discussão rende tratados. Esses são alguns dos problemas mais imediatos e, em tese, mais fáceis de resolver. E, note-se, estamos falando aqui apenas dos "juros básicos", a Selic, a taxa sobre a qual o BC tem influência. Os juros na praça, para o consumidor, são outra história, provavelmente muito mais enrolada.