Nos debates do segundo turno, José Serra precisa mostrar aos eleitores — sobretudo aos jovens que já nascem com um celular na mão e um telefone fixo ao lado do berço — como era o Brasil da Telebrás, da Telesp, da Telerj e de outras teles eternizadas na memória de quem conviveu com tais siglas como símbolos da inépcia, da corrupção, da barganha política, do preenchimento de cargos de direção pelos critérios do compadrio e da pouca vergonha. A paisagem que deixa Dilma grávida de nostalgia incluía, por exemplo, o monumento ao primitivismo resumido nestas duas páginas da edição de 4 de dezembro de 1994 do jornal O Estado de S. Paulo.
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Parece mentira: no tempo dos mamutes estatais, anúncios de compra e venda de linhas fixas, ofertas de aluguel de mesas de PABX e negócios congêneres inundavam quatro ou cinco páginas dos classificados de domingo. Nas áreas urbanas especialmente congestionadas, um aparelho custava mais de 3.000 dólares. A existência de linhas adicionais encarecia o preço de qualquer apartamento. A posse de aparelhos telefônicos era declarada no imposto de renda. Quem não tinha dinheiro para enfrentar o mercado anabolizado pelo excesso de demanda devia conformar-se com dois ou três anos de espera na fila dos “planos de expansão”.
Se ressuscitasse por aqui em julho de 1998, quando foram privatizados os paquidermes estatais, Alexander Graham Bell, o inventor do telefone, imaginaria que o século 19 não chegara ao fim. Havia 16,6 milhões de aparelhos fixos. Hoje passam de 50 milhões. Celular era coisa de americano ou extravagância de bilionário. Hoje todo brasileiro tem um. Graças à concorrência, os preços dos aparelhos e das ligações estão permanentemente em queda. A privatização da telefonia tornou o Brasil extraordinariamente mais moderno.
A aprendiz de candidata afirma que os eleitores terão de escolher, no segundo turno da disputa presidencial, entre o novo Brasil e o velho. Verdade. O antigo é o da mulher que pilota uma máquina do tempo que só viaja para trás. Ideologicamente, a cabeça da militante Dilma Rousseff continua estacionada em 1968. A discurseira sobre a privatização da telefonia reafirma que a visão da administradora ainda não enxergou o século 21.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes
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