Apertem os cintos e tenham paciência
José Roberto Caetano
Como expôs amplamente a imprensa, a Iata, uma associação internacional das principais companhias aéreas, fez uma censura pública ao governo brasileiro pelo estado lamentável dos aeroportos no país e alertou para o risco de um vexame verde-amarelo durante os megaeventos Copa de 2014 e Olimpíada 2016. A reprimenda saiu da boca de Giovanni Bisignani, presidente da Iata, num fórum da entidade realizado no Panamá. Apontando o fato de que 13 dos 20 maiores aeroportos brasileiros operam acima do limite, ele não usou meias palavras: “O relógio está correndo e eu não vejo muito progresso”.
Senso de urgência parece ser um traço realmente ausente do comportamento das autoridades brasileiras que respondem por essa área. A Infraero, procurada pelo jornal Folha de S. Paulo, respondeu que tem uma “lista de investimentos necessários” e que “o cronograma está sendo cumprido”.
Uma história que ouvi ontem de um empresário ilustra como o tópico “cronograma” costuma ser tratado nos círculos oficiais. O empresário em questão participa do Conselhão, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, um dos vários tipos de assembléia criados pelo governo Lula. Integrado por ministros, empresários, dirigentes sindicais e representantes de organizações sociais, o Conselhão se reúne regularmente para discutir questões que afetam o crescimento do país e propor soluções.
De acordo com o relato do meu interlocutor, cerca de um ano e meio atrás uma reunião do Conselhão, em meio à discussão sobre modelos para destravar os aeoroportos, saiu com a ideia de desenvolver indicadores de qualidade do serviço aéreo no país. Coisas como o nível de lotação dos pátios dos aviões, o tempo de atraso dos vôos, a espera dos passageiros em alfândegas e esteiras de bagagens etc. A elaboração dos indicadores teria ficado a cargo da Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil. Foi aventada a possibilidade até de a Anac pesquisar e incluir no seu relatório uma lista dos benchmarkings internacionais em cada item – ou seja, o indicador encontrado no melhor aeroporto em cada quesito. Até aí, ótimo. A comparação com o melhor em cada categoria é um recurso muito comum nas empresas e serve para apontar um objetivo: chegar lá, onde está o melhor, ou pelo menos chegar perto.
A questão é que o tempo passou e, até agora, nada de relatório de indicadores. Consigo pensar em três hipóteses: o documento ainda está em preparação (dentro do cronograma?), sua confecção foi descartada ou, talvez o pior, o relatório foi feito mas optou-se por não mostrá-lo a ninguém. Nesse caso, talvez por vergonha, como alerta a Iata sobre o futuro, de uma realidade já bem conhecida de quem viaja de avião no Brasil. Para esses, só resta recomendar: apertem os cintos e, se possível, tenham paciência, muita paciência.
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