terça-feira, 23 de agosto de 2011

Editorial Folha: Barris a menos

Os resultados da Petrobras no segundo trimestre mostram que a realidade operacional da empresa desperta mais preocupação que a simples leitura de um lucro de R$ 10,9 bilhões pode sugerir. O rápido aumento de custos em todas as áreas -exploração, produção, refino, administração- impede que a estatal se beneficie a pleno do preço do petróleo ainda elevado.

Apesar de a receita, de R$ 61,5 bilhões, ter subido 12% sobre o trimestre anterior, o lucro estancou. Os custos de extração cresceram 15% na mesma comparação e 34% ante o segundo trimestre de 2010.

Tais resultados ajudam a explicar o fraco desempenho na Bolsa. As ações da estatal estão em queda de 29% no ano, contra cerca de 10% da média global do setor. A declaração infeliz do presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, de que ingerência política é a regra em companhias como a Petrobras, só piora esse quadro.

Há boas e más decisões políticas. Um exemplo controverso ocorre no refino, área em que a empresa perdeu dinheiro -R$ 3 bilhões de prejuízo no segundo trimestre- em razão da opção do governo de não repassar o aumento de custos aos preços.

Com base no objetivo da política econômica de controlar a inflação, o governo espreme a capacidade financeira da Petrobras. Deveria haver uma regra clara de repasse de custos do petróleo aos preços dos derivados, a fim de conciliar esses dois interesses.

Outro ponto que depõe contra a estatal é a dificuldade de aumentar a produção, estagnada em torno de 2 milhões de barris por dia desde 2009. A meta diária original de 2011 baixou de 2,3 milhões de barris para 2,1 milhões.

Pela amostra, não será fácil atingir o objetivo de produção do pré-sal, de 2,7 milhões de barris por dia em 2020. A meta ambiciosa será posta à prova num ambiente de desafios técnicos e incerteza sobre custos maiores que os em vigor nos campos atuais.

Já decisão política defensável é buscar a nacionalização de um bom pedaço da cadeia de fornecimento. A meta do governo é atingir ao menos 65% de conteúdo nacional. Muitos fornecedores estão em fase de instalação de centros de pesquisa, produção e logística. Apesar disso, nos projetos correntes o índice de insumos nacionais não tem passado de 35%.

Tendo em vista o tamanho do esforço para explorar o pré-sal e a limitação dos recursos, as decisões da Petrobras precisariam ser mais técnicas que políticas. O mote deveria ser o controle estrito de custos e a calibragem dos investimentos, no sentido de evitar arapucas como descarregar dinheiro excessivo no refino.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2308201102.htm


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