quarta-feira, 23 de maio de 2012

O cunhado enrolado e a crise da Grécia

Estou tendo o privilégio de passar uma segunda crise estudando. No biênio 2007-2008 fazia meu primeiro MBA em Gestão e agora o de Finanças. Aliás, bem neste mês (Maio) fui agraciado com a disciplina Economia com o Professor Ruy Quintans (vejam aqui uma de suas entrevistas na Globo News).
O momento daquela crise me foi mais favorável em termos de tempo para escrever (pois é, meu Blog já existia) e o mês de setembro de 2008, aquele do Lehman Brothers, foi um dos períodos em que meus textos mais foram lidos.
Sei que não vou conseguir escrever como antes, mas podem ter certeza que estou lendo como sempre. Lamento não poder dividir todas as minhas idéias por aqui.

Mas chega de conversa e vamos partir para uma explicação "prática" do que vem acontecendo com a Grécia. Espero assim dar condições para conversas com pais, amigos, maridos, esposas, etc que não se ligam muito em Economia. Pode ser que fique um texto longo, mas vamos lá...



A Grécia é aquele cunhado problemático. Isto mesmo, tudo conhece um, ou sabe de uma família com um tipo desses.
Este cunhado (sempre ele) era casado com uma tal de Dracma e tinha lá seu padrão de vida. Seu sustento vinha de atividades ligadas ao turismo, embora tenha sido muito estudioso no passado, se perdeu na filosofia daqui e dali e não partiu para algo concreto e acabou lhe sobrando as atividades ao ar-livre, visitas a museus, monumentos, etc. Mesmo sendo bastante procurado sua renda variava porque era um profissional autônomo.
Com o que recebia mantinha um bom padrão para os filhos com boas escolas, hospitais, ajudava a pagar as despesas de saúde dos pais e dos sogros, contava com uma empregada e desfrutava de bons momentos de lazer e cultura (afinal estamos falando de um grego).
O problema é que já naquela época o rapaz trocava os pés pelas mãos nas finanças quando buscava o suporte de bancos, cartões de créditos, etc, mas aos trancos e barrancos a vida seguia.

Um dia apareceram umas belas moças na vizinhança. Era o Euro... Vinham de uma família tradicional, rica, cheia de regras e, o melhor, estavam facinhas, facinhas. Corria o início dos anos 2000.
O vizinho alemão, que havia feito carreira na indústria, já havia se casado. O francês, que desde sempre faziam um pouco de tudo (inclusive implicar com o alemão desde que se entendem por gente), também já tinha entrado pra família... Italianos, espanhóis, portugueses,... Havia sido um casamento coletivo. Todo mundo na mesma data. E estavam todos, como em todo início de casamento, muito eufóricos. Tinha até um Inglês (aquele que tem uma ilha só pra ele) que de vez em quando pegava uma das irmãs, mas nunca se decidiu pelo casamento de fato. Ficou naquela do "tico-tico no fubá". Até hoje mantém o longo relacionamento com a Libra, mas continua "enrabichado" com a turma do Euro.

O grego não aguentou. Deu um chute no traseiro da Dracma e se lançou nos braços da outra que o recebeu de braços abertos, mas havia alguns poréns. Lembrem-se que a donzela vinha de uma família tradicional, cheia de regras. O grego teve de se enquandrar, mostrar seus dotes... Aperta daqui, esconde dali... Advogados e assessores pro lado, pro outro e, enfim, acertaram os ponteiros.
A fama de enrolado todo mundo sabia, mas afinal, quem não tinha lá os seus rolos. E de mais a mais, tinha gente muito mais enrolada e que nem por isso havia sido riscada do mapa (leia-se o distante açogueiro argentino do outro lado do lago).

Os primeiros anos foram de uma felicidade só. O grego passou a ser mais conhecido, acessível. Sua rede de contatos se ampliou. Um pouco depois coube a ele cuidar do evento esportivo mais importante do planeta (Atenas 2004). As crianças foram crescendo e outras vieram, novas empregadas foram contratadas, o plano de saúde dos velhinhos melhorou (afinal, se o cunhado alemão podia, por que não ele?). Pra ficar melhor ainda, de tão tradicional e unida que era a família, o grego passou a obter empréstimos mais baratos, na maioria das vezes avalizados pelos mais ricos da turma.
A conta não fechava? Como pagar a padaria? Empréstimo. Escola? Empréstimo... Pagar a parcela da dívida? Um novo... Empréstimo.
Enquanto todo mundo ganhava dinheiro a roda ia girando, os juros eram baixos e o grego foi se acostumando e também os seus dependentes a um padrão de vida que já não correspondia com seus ganhos.

O estouro de uma bolha nos negócios imobiliários de um vizinho distante (os EUA) pegou todos de surpresa. A esta altura o alemão, o inglês e o francês sabiam que estavam enrascados. Havia dinheiro deles na lambança...
Como resultado ninguém queira emprestar pra ninguém. Pro alemão isto não era problema, afinal fazia anos que não sabia o que era gastar mais do que arrecadava. O francês e o inglês não estavam na mesma, mas a situação deles não era crítica. Agora, o grego... Este estava, como se diz lá em Ipatinga, onde nasci, "encardido" - sabemos que há outros problemáticos (Irlanda, Portugal, Espanha), mas resolvi pegar no pé só do cunhado, quer dizer, do grego.

O pobre do grego foi vendo algumas portas se fechando pra ele, as contas foram batendo, os juros aumentando, agiotas no pedaço e ele não tinha alternativa: empréstimo. Ainda em 2008 e já devia mais de 150% do que ganhava. Tentava apertar o cinto, mas não dava. As crianças estudavam em excelentes e caros colégios. Como eliminar isto do orçamento? E a ajuda aos velhinhos? Tanto suor que deram no passado...

O fato é que a família se reuniu no ano passado. A situações do pessoal da pindaíba era insustentável! Como é que alguém pertencente aquele grupo poderia dever tanto? Que vergonha irlandês. Que vergonha grego... O pior que eles já haviam se sentando várias vezes tentando estabelecer um teto para a dívida de quem era casado com o Euro (o tal do regime fiscal), mas iam sempre empurrando com a barriga...
O alemão, que no final das contas, foi o que se deu melhor entrando na família, deu um soco na mesa e determinou: "olha aqui seu grego. Dinheiro agora só se nos der garantias de que vai reduzir suas despesas!" (já não havia bancos particulares ou forasteiros que emprestassem ao grego. Sem ter a quem recorrer, é fácil imaginar que ao papel do cunhado cabe procurar a família...).
O grego olhou, olhou e olhou e aceitou. Na verdade não lhe aparecera outra alternativa. Pegou 130 bilhões de Euros e voltou pra casa para quitar parte das dívidas.
Ao chegar em casa reuniu a família e começou: nada de banho demorado, esqueçam o celular, esqueçam as empregadas (olha o desemprego), e ó vovôs, vamos ter de cortar na ajuda (pensões) e plano de saúde de vocês...
A família ficou irada. Voou prato pra todo lado... Onde é que já tinha se visto?!? Que humilhação! Uma história de tanto tempo?!? Como é que viveriam sem as mordomias?
O grego justificou da única maneira que podia: era pegar ou largar. De mais a mais não seria tão ruim... Seria?
Os meses seguintes foram um caos. Apesar dos apertos as contas continuavam não fechando (fruto de uma continha simples de juros compostos) e o pior, o grego havia feito de tudo pra pegar mais dinheiro do primeira vez com os chegados do Euro, mas sabe como é, o pessoal da nó em pingo d'água e dividiram o empréstimo em várias partes. Se tudo corresse bem as outras gotas pingariam.
Já naquele momento nascia entre os filhos, velhinhos e agregados do primeiro casamento uma rixa com os do segundo casamento. Do jeito que estava era melhor mandar esses metidos à σκατά, largar esse peso que se tornou a segunda esposa e voltar ao antigo casamento. Já pensou amigo...

E chegamos à situação que nos encontramos hoje. O cunhado grego deve aos Europeus uma enormidade (350 bilhoes de Euros - quase 1 trilhão de Reais) e se ficar o bicho come (vai ter de continuar dimuindo, e muito - em torno de 20% ao ano - o padrão de vida de seus dependentes) e se correr o bicho pega (quem vai pagar suas contas? Quem vai cobrir os 350 bi dos que empresataram?). E pra piorar mais ainda. E o outros cunhados que têm dívidas maiores que o grego?

É amigo imagine a sua família neste impasse. Só peço aos irmãos da D. Onça que escolham o outro pra Cristo, afinal sou um cunhado tão bonzinho... Foi mal Ronaldo...



segunda-feira, 14 de maio de 2012

O uso do iPad no trabalho




Algumas pessoas me perguntam se realmente faço uso do iPad no trabalho. Me vêem de um lado para o outro na empresa ou em visitas ao cliente e pensam, às vezes, que a idéia é mais impressionar do que efetivamente utilizar.
Não é bem assim e o que estou vivendo nos últimos dias dá uma idéia. Bastam um bom Tablet, o que pra mim significa um iPad, bons aplicativos, boa conexão de internet e alguma intimidade com o processo.

Amanhã terei duas reuniões importantíssimas de apresentação dos resultados dos projetos que tomo conta. Daquelas que quanto mais respostas eu tiver na hora, melhor. Tivemos até algumas reuniões de preparação com equipes distintas (Finanças, Segurança, etc)...
Agora me perguntem quantas linhas de caderno foram anotadas? Nenhuma! Lembrem-se que desde que comprei meu primeiro iPad não uso caderno.

Durante as reuniões de preparação utilizo o Evernote (uma das Apps mais famosas para iOS e Android) para fazer anotações em áudio e por escrito. Se necessário tiro fotos (o novo iPad tira excelente fotos) de anotações feitas a mão por outras pessoas em cadernos ou quadros. Assim garanto que nada, nenhuma informação, ficará para trás.
Durante minhas viagens ao Rio ou até mesmo no trânsito no trajeto casa-escritório-casa ouço os áudios e vou fixando números, relembrando ações que ficaram em aberto e medidas que ainda preciso tomar. Está tudo lá.

Na empresa recebo os drafts dos "Power Points" para preparar as versões finais.
Utilizo os sistemas e bancos de dados da empresa (que por enquanto não acesso via VPN no iPad, mas sei que este dia vai chegar) para gerar relatórios em PDF, DOC e XLS e os salvo do desktop diretamente no meu Dropbox... Com isso consigo parar de pensar no grande dia e foco nas inúmeras tarefas que ainda merecem atenção.

Ao chegar em casa, já posicionado no sofá reinicio os preparativos. Aqui entra a boa conexão de internet (e deixo um parênteses para o Vivo Plus que hoje bateu 5 mega de velocidade por aqui - o dobro de minha operadora de TV a cabo)... Acesso o Dropbox a partir do iPad, baixo os arquivos que preparei com as análise e os abro cada um na App mais adequada (Pages, Numbers e o também excelente GoodReader).
Pega uma informação daqui, anota uma coisinha dali e, pouco a pouco, as versões definitivas vão tomando corpo no Keynotes.
O destaque que dei ao GoodReader vem do fato que consigo (além de abrir diversos formatos) revisar os PDFs fazendo anotações no próprio arquivo, destacar textos, abrir caixas de diálogo, desenhar, etc e ao final vai tudo pra nuvem...

Ouvindo as reuniões de preparação, revendo anotações, estudando os fatos e dados e montando "Power Points" sem que eu esteja sentado na minha mesa pode ser considerado uma graça. No sofá da minha casa então... E ainda tenho o bônus que minha impressora em casa é sem-fio. Está a um clique de distância.
Sem dizer que se precisar revisar o material de 6-7-8 meses atrás não vou precisar folhear páginas e páginas de cadernos antigos. Bastará um ou outro "find" e estará lá! Simples assim...

Agora me digam: vale ou não vale a pena trabalhar com o iPad? Se pensam que impressiona apenas no "visual", imaginem quando perceberem o diferencial de sua preparação.

Ah! Percebam que escrevi este post no BlogPress para iPad... Já estou deitado. Amanhã o dia será longo. Esse iPad...

- Posted using BlogPress from my iPad