sábado, 3 de agosto de 2013

E as manifestações?

Sabendo que sempre tenho uma opinião a dar muitos me perguntam: "e as manifestações?".
Pois bem... Penso que corremos o risco de estar fazendo a coisa certa do jeito errado, ou por outra, acertamos no conteúdo, errando na forma. Ponto. Poderia terminar por aqui e sei que vou acabar me enrolando, mas vou me explicar.
É muito salutar que, como sociedade, tenhamos espaço para expressar nossa voz. É contra o aborto? Fique à vontade. Coloque isso pra fora, tente convencer o restante da população. Eu disse convencer, não impor. Apresente seus argumentos. É a favor? Mesma coisa... Casamento gay, melhorias no sistema de transporte, reforma política, mudança de rumos na cidade... Agora, santa ironia, para defender a mobilidade, você impede o direito de ir e vir de todos... Aí o buraco é mais embaixo. E olha que foi só o começo. A partir daí veio quem queria mais saúde, mais educação, menos violência, eficiência no transporte público e segue a lista. Anseios legítimos defendidos de formas não tão legítimas assim.
"Ah, mais a violência veio de uma minoria". Ainda bem... Mas o estrago feito todos nós pagamos. Além disso, por complexos mecanismos de causa-efeito-causa (em que é difícil saber quem é quem), mesmo o que se pode considerar como "vitória das ruas" pode se voltar para a sociedade como um todo. Ou você acha que podemos ir pra rua hoje e conseguir transporte de graça, amanhã voltamos lá e conseguimos acabar com os pedágios, na seqüência buscamos o congelamento dos preços dos alimentos…. Esta semana mesmo estão nas ruas pedindo a quebra de sigilos do governador do Rio. Algo que compete à Justiça mediante o seguir de determinadas regras, que é verdade, acabam por favorecer os mais afortunados, mas acreditem, não tê-las seria pior para todos. É essa a democracia que queremos? Se decidirem que políticos corruptos devem morrer é só ir pra rua, quebrar tudo e está lá? (Gostaram da idéia, né?)
"Ah, mas é tão bonito ver um movimento sem líderes, genuinamente do povo". Cuidado… Pra início de conversa o movimento Passe Livre (a ser eternamente lembrado como quem bateu primeiro - e há registros da imprensa) é organizado, espalhado por bairros da capital paulista e até mesmo em outras cidades. Foi só a imprensa apontar os microfones e câmeras e os "representates" foram aparecendo (isto me fez lembrar os bons tempos de ETFES em que os líderes de turma também eram chamados de "representantes" - sim, pra variar, fui um deles, mas isto é outra história). Outros movimentos foram populando os protestos e em algum lugar estavam os seus líderes. O povo foi pra rua? Sim, foi… É legítimo? Muito mais que legítimo… Mas não se trata, minha opinião, de apenas isto. Não me consta que a população de Curitiba partiu pra briga quando passou a ter um dos melhores sistemas de transporte do mundo (está certo que hoje tem lá seus problemas, mas no Brasil ainda é uma referência). São Caetano do Sul (cidade da minha grande amiga Valéria Zerbini) não chegou ao melhor IDH do país com os jovens quebrando bancos e saqueando lojas.
Não ignoremos o que se aprendeu no mundo desenvolvido (se não me engano tudo começou com a chamada Revolução Gloriosa) há muito tempo e até entrou em nossa bandeira. A Ordem precede o Progresso e se estamos insatisfeito com nosso nível no segundo quesito, não vai ser com menos do primeiro que chegaremos lá.

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