domingo, 12 de agosto de 2007

Data a ser lembrada

Hoje é Dia dos Pais. Oportunidade para ligar para o velho e dizermos o quanto o amamos e expressar sua importância para nossas vidas. Aos que são pais deixo minhas felicitações.
Vou aproveitar a data para fazer uma homenagem ao meu pai e de quebra pagar uma promessa com os leitores mais antigos do Blog.
Logo no início eu disse que publicaria um texto que escrevi ainda no hospital em 2003, mas até hoje não o havia feito.
Como ontem completou 4 anos que voltei a trabalhar depois do período de recuperação penso ser uma boa idéia relembrar um pouco.

Assim, convido vocês a voltarem a julho de 2003, um pouco depois de eu ter saído da UTI. Escrevi o texto após receber alta para ser publica no site da minha turma de formatura (500 Anos no Grau)... Mais uma informação: os tiros foram no dia 08 de maio.

PORQUE?

Imagine-se com um amigo ao celular. Você está andando
enquanto fala...
Alguém chega pelas costas (bem encostado) e te pede o
“bagulho”, o “celular”. O que você faria?
Eu fiz muito pouco, quase nada. Pedi pro Humberto
(AGRO 95) esperar... “Pega, Pega”, dizia o que estava
atrás para outro que me acompanhava pelo lado.
Mostrou-me a arma, mas não acreditei que atiraria
diante de tanta gente pela rua...
O primeiro tiro veio logo, com o cano bem colado nas
minhas costas. Corri o quanto pude enquanto ouvia
outros disparos. Deu tempo de ver alguém sendo
atingido no meio da rua... O comércio que ainda estava
aberto fechava rapidamente. Fui chamado a entrar em um
bar que também baixava as portas. O sangue já era
muito. O Humberto corria pela rua à minha procura.
Pela primeira vez pensei que fosse morrer...
O socorro veio logo e em poucos minutos estava numa
maca de hospital (também era a primeira vez).
Consciente, passei diversas informações aos médicos,
aliás, tinha uma que parecia uma deusa. Perguntava-me
porque alguém numa situação como a minha ainda dava
importância à beleza de uma mulher. Tirei uma série de
raios-x e tudo parecia tranqüilo. Cheguei a cogitar a
hipótese de ter sido atingido por balas de borracha...
Não sei em que momento, mas acabei dormindo...

Acordei amarrado numa cama, sabia que estava num
hospital. A primeira pessoa que vi me trouxe algumas
informações. Meus pais viriam me ver... Que bom...
O tempo foi passando e fui descobrindo o que havia
acontecido “enquanto eu dormia”. Foram 15 (ou 16) dias
de sono. Nesse período cheguei à beira da morte umas 4
vezes. Na verdade, segundo relatos médicos, o normal é
que eu tivesse morrido na hora dos disparos.
As balas fizeram um grande estrago aqui dentro e foi
necessária uma seqüência de cirurgias. Estive com 10%
de sobrevivência. Um dos médicos sugeriu ao Humberto
que fosse trazido um pastor ou um padre pra que me
“preparasse” a partida. Outro falaria dias depois em
milagre.
Já acordado, acompanhei de perto o sofrimento daqueles
que me visitavam, embora a ordem fosse não se alterar
enquanto estavam comigo, minha mãe chorava em alguns
momentos.

Fui avisado pelo médico que dormiria mais um pouco.
Seria submetido a mais uma cirurgia. Algo havia saído
errado. Minha mãe fora surpreendida pela notícia e
pensara que desta vez eu não resistiria (imaginem
só!).

Acordei de novo (quatro dias depois) e as coisas
pareciam ir bem. “Bem” numa UTI não quer dizer
exatamente a mesma coisa aqui fora. Eram vários fios,
várias febres, muito remédio, muita injeção...
O tempo foi passando e fui melhorando. Tinha muitos
desafios pela frente, precisava voltar a falar,
mastigar e andar. Aprender tudo isto depois de 46 dias
naquela UTI não foi fácil.
Transferido para o quarto a recuperação foi acelerada
e o dia da alta não demorou...

Passei pelo pior dormindo e montei a história
recolhendo detalhes daqueles que estiveram presentes
nos dias de sofrimento.
É difícil analisar isso tudo. O que dizer da minha
‘sobrevida’? De fato são mais perguntas do que
afirmações... Porque? Pra que? A impressão que tenho é
que a vida pode ser levada a qualquer momento e nós
nem consideramos isso. Pouco tempo atrás perdemos
nossa amiga Érika (DIR 95) e ainda guardo os últimos
e-mails que trocamos dois dias antes do acidente.
Porque tinha que ser assim? Dizer que a vida é assim
mesmo ou outra resposta do tipo, por mais verdade que
seja, deixa um imenso vazio. O sofrimento de meus pais
me fez pensar nos pais de nossa amiga (Edna e Luís) e
me trouxe muita alegria receber mensagens deles pelo
nosso site. Acho que eles também fizeram tais
perguntas...

O jeito é deixar a bola rolar.

As visitas, as mensagens (quem diria que nosso site
serviria pra isso!), os recados enviados por amigos me
fizeram muito bem.
Obrigado a todos que estiveram comigo. Alguns eu nem
me lembro (resultado dos efeitos da sedação). Àqueles
que divulgaram meu problema e formaram correntes de
oração (os moradores do prédio do Humberto fizeram uma
missa), promessas, etc... Pessoas que nem me conhecem
e mesmo assim me dedicaram parte de suas preocupações.
Deus, muito obrigado.




Teco
Elerson Nilseler Nogueira
Eng. Agrimensor

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